20 dezembro 2013

O cheiro de nós


Lá fora o típico cheiro de chuva, não aquele ideal da chuva molhando a terra e sim o asfalto quente castigado pelos pingos finos (prova de que até mesmo o que não é romântico pode ser doce). Ao lado um maço entreaberto de cigarro fabricado na Indonésia exala um cheiro de especiarias e noites sujas, e mesmo nesta delirante mistura olfativa as minhas narinas buscam seu cheiro, ainda.
O cheiro da tua nuca, virilhas, axilas e do seu hálito; saudades de te abraçar e pedir baixinho para que a vida se encerre ali naquele instante. 
Nada existiu ou existirá além do abraço e seu cheio em mim, em nós.
No player uma música qualquer que fala de amor, o amor pode ser tão ordinário, e eu sinto o ar ficar rarefeito – suspiro à procura do seu cheiro ou quem sabe que você de alguma forma escute o som que sua falta me faz.
Pouco mais de uma dezena de dias para o término de mais um (mesmo) ano, 2013 se vai e sua ausência sei que fica; antes a profecia fosse a vera e “de dois mil não passarás...” assim eu não teria te conhecido e o paraíso seria mais uma história mal escrita no livro de salvação de muitos, inclusive a sua. 
A vida continua pesada sem você, a cada novo dia é como ir à forca e o carrasco faltar. Agonia, desesperança e o fim tal qual o horizonte no mar negro sem luar; a maresia se mistura à dor e nada de sentir o cheiro doce da morte, da morte de “nós” que mesmo em farrapos e putrefato teima em não descansar no túmulo da minha vida.  

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